sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A JP no Defesa de Espinho - 10/12/09

Os camaradas são para as ocasiões.




Intervalo da novela. O desespero! O horror! O que fazer?

Porque não viajar?

Viajemos imaginando, até um mundo de sonho. A um mundo que não é real, que não existe.

Bem-vindos a um país. Bem-vindos a uma república. Bem-vindos à República do Nacional Porreirismo.

A República do Nacional Porreirismo é difícil de descrever. É um país que perdeu a memória. É um país que poderia ter por lema “status quo”. É um país que desconfia dos seus cidadãos mais empreendedores.

Nesta república há, aliás, dois verdadeiros graus de cidadania: a cidadania propriamente dita e a camaradagem, bem mais apelativa do que a primeira. Todos os camaradas são cidadãos; nem todos os cidadãos são camaradas. Os camaradas são aqueles que pertencem aos clubes desportivos do poder. Clubes desportivos esses que se dedicam à prática de um desporto peculiar: a conquista do poder na república.

Para se chegar ao poder e para o exercer é preciso encará-lo como um desporto, em primeiro lugar. Em segundo, é preciso ser camarada de um clube. Em terceiro, é preciso vencer o campeonato.

Como é que se vence o campeonato? Conseguindo o voto dos juízes. Quem são os juízes? São os cidadãos. Como é que se conseguem os votos dos cidadãos? Boa pergunta!

Aqui é que entra a beleza deste desporto. O objectivo é convencer os juízes de que este desporto, de um desporto não se trata. Ganha o campeonato o clube que melhor convencer os cidadãos do seu (pseudo)altruísmo. Todos alegam que se batem pelo bem da república. Quem melhor disto convencer, vence.

E o que fazem os camaradas com o poder?

Tanto! Contemplam a sua vitória. Contemplam-se a si mesmos na sua majestática grandeza. Disfrutam das regalias que vêm com o posse do poder. Batem-se pela manutenção do seu poder ( que também é do seu clube, claro está). E, finalmente, criam as condições para terem uma existência confortável depois de deixarem o poder e o clube (sim, porque quando alguém se dedica a actividades tão desgastantes quanto a prática deste desporto, a reforma vem cedo).

Mas a camaradagem é ainda melhor do que à primeira vista possa parecer. Mesmo quando não se consegue chegar a tempo do almoço, há sempre uns restinhos ao dispor dos camaradas.

O valor fundamental da camaradagem é a solidariedade, quer entre os camaradas do seu mesmo clube, quer – pasme-se a grandeza de espírito! – entre camaradas de clubes distintos, porque a camaradagem é um valor em si mesmo e todos os camaradas lá estão para o mesmo.

A camaradagem importa, então, um seguro desportivo. Ainda que os resultados dos campeonatos não sejam tão bons quanto se esperava, há sempre prémios de participação. Há sempre algum poder que os camaradas vencedores têm que delegar em outros camaradas.

Tomemos um único exemplo, para que não digam que tomámos mais. A República do Nacional Porreirismo está dividida em regiões administrativas provisórias, há décadas. Para cada uma das regiões o Primeiro dos Mandões e os seus acólitos nomeiam o Mandão Cá da Região. Para Leonor, a região administrativa provisória onde se insere a capital, foi nomeado o camarada que teve o infortúnio de ficar a um lugar de entrar na Casa dos Mandões. Já nas regiões de Amélia, Filipa ou Perpétua, por exemplo, foram nomeados camaradas derrotados nos campeonatos do Mandão Cá da Terra.

Em boa verdade, os camaradas são para as ocasioões: para as más, para as boas, até para as assim-assim. Os camaradas são para todas as ocasiões! E quanto custa isto? Praticamente nada: apenas jurar submissão absoluta ao clube, obliterar aquela coisa de que nunca se faz uso chamada “honra” e, pois claro, estar sempre disposto a ajudar um camarada em tudo o que ele precisar. Fácil, barato, dá, literalmente, milhões.

Extraordinário!

Agora, por puro aventureirismo imbecil, imaginemos. Imaginemos que esta república que imaginámos e que esta viajem que sonhámos não são fruto da nossa imaginação, mas da vil e monocromática realidade. Imaginemos que não só a República do Nacional Porreirismo existe, como vivemos nessa mesma república.

Ou talvez não...

Coisa desinteressante de se imaginar! Disto só se encontra remechendo na pútrida fertilidade de mentes pouco ilustradas. De facto, ignorância é força.

Vamos, mas é, fazer zapping.






André Levi Ferreira

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